A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) preparou uma série de vídeos com orientações e recomendações aos profissionais da Rede de Atenção Psicossocial envolvidos nos atendimentos às famílias atingidas por desastres climáticos
Quando ocorre um desastre com severos impactos, como por exemplo no Rio Grande do Sul , há uma grande mobilização durante as primeiras respostas. No entanto, passados alguns meses, as equipes de saúde local, muitas vezes, encontram-se despreparadas, fragilizadas, com excesso de demandas e sem informações suficientes para dar continuidade aos cuidados necessários à saúde mental da população. Este material consiste em uma oferta de apoio técnico às equipes de saúde, com informações úteis, sobretudo, para a continuidade do cuidado em saúde mental a longo prazo.
Organizados pela Fiocruz Brasília e o Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes) da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz, os vídeos trazem orientações sobre os cuidados com a gestão de psicofármacos em situação de desastres voltadas para os profissionais de saúde das três esferas de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), sobretudo os que compõem a Rede de Atenção Psicossocial. Os materiais, são coordenados pelos pesquisadores Fabiana Damásio, da Fiocruz Brasília e Carlos Machado de Freitas, do Cepedes/Fiocruz. A concepção e supervisão de edição estão sob responsabilidade das pesquisadoras Vânia Rocha e Sônia Regina Fernandes.
Para Fabiana Damásio, diretora da Fiocruz Brasília, esta coletânea representa mais uma resposta da instituição em relação ao cuidado dos trabalhadores da saúde, que sempre estiveram na linha de frente durante emergências sanitárias e desastres climáticos. Damásio, que é psicóloga, enfatiza que todo desastre ou emergência em saúde pública possui um momento agudo, mas que seus efeitos se prolongam no tempo. “Os desastres e emergências não se restringem ao curto prazo. Após as intervenções na fase aparentemente mais crítica, é fundamental acolher imediatamente as pessoas em suas necessidades, restabelecer as condições de vida, e investir, assim que possível, em prevenção, a fim de mitigar novas crises”, ressaltou Fabiana, destacando a relevância dos materiais audiovisuais que apoiarão os profissionais da Rede de Atenção Psicossocial envolvidos no atendimento às famílias afetadas por desastres climáticos. “É importante mapear e conhecer a realidade para pensar em estratégias de cuidado coletivo ancorado no SUS, além de viabilizar espaços de cuidado para os trabalhadores em especial o cuidado em saúde mental e atenção psicossocial”, ponderou.
Na mesma linha, o pesquisador do Cepedes/Fiocruz Carlos Machado de Freitas, apontou que as populações atingidas por desastres vivenciam uma multiplicidade de riscos, danos, doenças, agravos e impactos na saúde simultaneamente, cabendo ao SUS organizar os cuidados e vigilâncias para todos ao mesmo tempo. “Neste universo, os impactos na saúde mental são de grande importância, pois são transversais ao conjunto de outros efeitos, principalmente em situações em que há um grande número de desabrigados e desalojados ou de pessoas e famílias que em pouco tempo perdem tudo ou quase tudo que construíram ao longo dos anos”, enfatizou ao afirmar a importância de preparar e organizar os cuidados em saúde mental para as pessoas atingidas por estes eventos extremos, o que também inclui os próprios trabalhadores que atuam na linha de frente. “Estes vídeos, nesta perspectiva, constituem uma grande e rica contribuição para este processo de preparo e organização dos cuidados em saúdemental”, apontou.
Entre os temas abordados na série, destacam-se os psicofármacos em situação de desastres; cuidados com a prescrição de psicofármacos; e gestão de medicamentos: cuidados necessários em desastres. A coletânea também contará com vídeos abordando os cuidados com a saúde mental de crianças e adolescentes; a saúde mental dos trabalhadores da saúde e os desafios que os desastres impõem a toda a Rede de Atenção Psicossocial. Cada episódio conta com o depoimento de especialistas na área de saúde mental e de gestão de risco de desastres, que abordam temáticas importantes envolvendo toda a rede de cuidados com a saúde mental e atenção psicossocial.
As pesquisadoras Vânia Rocha e Sônia Fernandes esperam que o material contribua para o fortalecimento das ações de cuidado com a saúde mental, que se iniciam nas primeiras respostas aos desastres, mas que devem ter continuidade. Os serviços de saúde precisam estar cada vez mais preparados e com o apoio necessário para atender às demandas, que certamente aumentam após um evento traumático. “Os cuidados com a saúde mental são uma preocupação constante em situações que envolvem desastres, pois os efeitos na população afetada podem ocorrem dias ou até meses após o evento. Esses cuidados iniciais são muito importantes, mas tão importantes quanto a continuidade deste cuidado pela Rede de Atenção Psicossocial, ou seja, o acompanhamento do tratamento”, apontaram as pesquisadoras.
Os vídeos serão disponibilizados em nosso canal do YouTube. À medida em que os materiais audiovisuais forem postados no canal, atualizaremos os links aqui e em nossas mídias sociais. Fique atento e não perca o lançamento dos próximos episódios! Abaixo, nos links, você acessa os vídeos já disponíveis da série “Desastres: o papel da Rede de Atenção Psicossocial”.
Desastres: o papel da Rede de Atenção Psicossocial – Ep. 01
Psicofármacos em situação de desastres
O Cepedes
O Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes) foi estruturado em 2012, por decisão do Conselho Deliberativo da Fiocruz e se encontra ancorado na Ensp/Fiocruz. Faz parte da missão do Cepedes o desenvolvimento de pesquisas de apoio as estratégias de redução de riscos de desastres no país, tendo realizado um primeiro diagnóstico das capacidades de preparação e respostas dos setores saúde e defesa civil em 2013.
Em 2020, o grupo liderado por Carlos Machado publicou o artigo Desastres naturais e seus custos nos estabelecimentos de saúde no Brasil no período de 2000 a 2015, que analisou os impactos e custos econômicos dos desastres naturais sobre os estabelecimentos de saúde, identificando tipos mais frequentes e de maior custo, e distribuição no território nacional, tendo como base os dados registrados no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID) num intervalo de 15 anos. Foram sistematizados e analisados cerca de 16 mil registros, sendo que deste universo, em somente 29,4% das ocorrências havia registros de custos, totalizando quase R$ 4 bilhões. Os desastres climatológicos foram os mais recorrentes, mas não os responsáveis pelos custos mais expressivos. Na relação custos por evento, os desastres hidrológicos apresentaram custos 3,2 e 3,6 vezes maiores do que os meteorológicos e geológicos.
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